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Mostrando postagens de abril 30, 2016

O futuro

Conversamos sobre dualidade, pares ordenados e quejandos, sobre como isso é importante e desimportante pra gente que conheço e pra gente que não conheço. Como o pensamento se organiza em torno desses polos, e, nessa organização, como também ignora tudo que não é extremo, dando frequentemente com os burros n’água, mas também se fortalecendo. Fortaleza. Fortalecer-se. Há uma força aí que talvez seja demasiada. Que tal o desamparo, a fraqueza? Apenas uma ideia.   A gente pensa e pensa e faz e faz e sonha e sonha. E continua a pensar e pensar, sonhar de vez em quando, amar quando é possível. Depois a fazer raramente, sonhar quando as condições estão favoráveis e a sonhar apenas quando se dá conta de que as coisas tinham uma cara diferente uns anos atrás. A imagem de uma praia poluída cujo nome frutifica futuro. É como se dissessem: o futuro de vocês está ali, mas ninguém pode entrar. O futuro está barrado, fechado, cercado por barracas cada vez maiores, com piscinas de

Hora certa

E, já na despedida, foi desafiado a dizer o que quer que fosse, algo com começo, meio e fim, uma história completa com personagens e ambiente, uma praia como a praia da cidade, a praia de água poluída que carrega o nome pesado e leve ao mesmo tempo. Futuro. O futuro da praia expresso na sujeira, na impropriedade do banho, na pele vulnerável de quem encostasse na água crespa. Porque ninguém sabe o que acontece depois da água. Depois que a gente entra, o que vem? Depois que salta as ondas, o que vem.  O futuro da praia tinha essa interrogação. Pensou uma história que fosse a praia, à praia, e da praia trouxesse o sustento, mas jamais imaginou-se escrevendo sobre o sal, quando muito navios encalhados, coisas sem préstimo, uma carcaça. Gostava do imprestável como utilidade. Mas o desafio era contar essa história com gente falando e agindo como gente, eu e você, saindo pra trabalhar e entrando no supermercado na noite de sexta-feira, o cansaço de uma fila e essa esper

Passagem

Algo como um resumo, uma síntese, essa que contém as dificuldades que ninguém diz ou adivinha quando a gente passa e passando deixa apenas rastro e no rastro nada além da ideia falsa de que o que vai corresponde exatamente ao que se vê. Essa correspondência é quase sempre falha. Nunca exata. Jamais confiável. Sei de casos em que o nome que andava não se colava ao corpo, ou de corpo que não se adaptava ao nome. Era caso complexo, hoje reconhecidamente sem solução, o que talvez seja o melhor dos mundos. Eu, quando passo, fico me perguntando se o que veem sou eu ou essa ideia esquisita que faço de mim quando me vejo passando na cabeça dos outros. 

Toda luz

Uma frase que contasse a história dos últimos dias, sendo os últimos uma repetição de todos os dias, dos primeiros, quando tinha de cavar com as próprias mãos, aos derradeiros, quando desistiu de enfiar-se no buraco, mas sabia que a repetição era falsa e a continuidade, apenas aparência, no fim das contas tudo possuía essa qualidade de estender-se no tempo sem que necessariamente houvesse uma razão, apenas o encontro, apenas presença, apenas um passo que se segue a outro e outro e depois outro, como acontece com tudo, como aconteceu naquele dia na saída do cinema. Nessa frase, precisava deixar tudo claro, quase tudo, mas a clareza não é apenas uma dificuldade estilística. Tudo isso ficaria evidente logo no início. Mas não era assim. Nunca tinha sido. Ele adivinhava que agora, depois dos trinta, não estaria tão cansado, mas está. Talvez passe. Talvez não passe. “Horses”, de Patti Smith. Toca na TV. É tão fora de órbita numa manhã de sábado, hora do almoço, essa voz c