E, já na
despedida, foi desafiado a dizer o que quer que fosse, algo com começo, meio e
fim, uma história completa com personagens e ambiente, uma praia como a praia
da cidade, a praia de água poluída que carrega o nome pesado e leve ao mesmo
tempo.
Futuro.
O futuro da
praia expresso na sujeira, na impropriedade do banho, na pele vulnerável de
quem encostasse na água crespa. Porque ninguém sabe o que acontece depois da
água. Depois que a gente entra, o que vem? Depois que salta as ondas, o que vem.
O futuro da
praia tinha essa interrogação. Pensou uma história que fosse a praia, à praia,
e da praia trouxesse o sustento, mas jamais imaginou-se escrevendo sobre o sal,
quando muito navios encalhados, coisas sem préstimo, uma carcaça. Gostava do
imprestável como utilidade.
Mas o
desafio era contar essa história com gente falando e agindo como gente, eu e
você, saindo pra trabalhar e entrando no supermercado na noite de sexta-feira,
o cansaço de uma fila e essa espera larga e incompreensível enquanto o caixa
imprime a nota fiscal.
Quem explica essa espera? Era o tipo de história que tinha pra contar. Uma história feita com espanto e amor, mais uma coisa que outra. Não saberia dizer qual.
A história da história de uma mulher que dispensa relógio mas se pergunta sempre se a hora chegou.