Acordei mais cedo do que de costume e, ao deixar minha filha na escola, ouvi um popular falar baixinho, a voz engrolada de quem se acha ainda sonolento. Cheguei mais perto, pus a mão em concha pra abafar o ruído dos carros. E era isso mesmo. Às 7h50 da manhã de uma terça-feira de outubro de 2019, aquele brasileiro estava pedindo a Anitta. Pedia muito, na verdade. Embora com discrição, sons e gestos faziam crer que pedir a Anitta era necessidade básica, questão humanitária até, mais importante do que o café com pão do desjejum. Quis ajudá-lo, mas não sabia como. O homem explicou que, desde o sábado passado, não sabia pronunciar outras palavras além daquelas. Queria a Anitta, urgentemente. Meu senhor, o Brasil inteiro quer, brinquei. Ele ficou sério. Como me afastasse, agarrou meu braço e sibilou: você tem de pedir Anitta. Fui embora encafifado. Meia hora depois, meu telefone toca. Era o pai. Ficou calado uns dez segundos antes de começar a conversa, que se resumia a uma única senten
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)