A cidade é um ovo, escuto com frequência desmedida, ao que os mais exagerados acrescentam, em tom ainda mais incisivo: um ovo de codorna, o dedo em riste a advertir o interlocutor ingênuo. Um ovo pelo que tem de diminuta, claro, e isso sempre me pega, pra usar uma gíria de fabricação mais recente (já sem muito uso, tanto ela quanto a palavra gíria em si), porque no fundo se trata de uma metrópole, a quarta maior do país. Uma cidade com três milhões de pessoas e mais de uma centena de bairros. Espalhada como um ovo na frigideira, quente como ovo cozido, abafada como ovo na cuscuzeira, mas não exatamente um ovo, no seu sentido figurado, se é que consigo me explicar. Mas há quem insista: a cidade é um ovo. O que quer dizer, afinal de contas? É coisa para se investigar, apurar bem antes de falar e repetir, até para encompridar aquela conversa na mesa de bar ou na fila do pão, no cinema ou na praça, quando duas pessoas desconhecidas descobrem amigos comuns e intuem, como numa epifania, que ...
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)