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Mostrando postagens de agosto 5, 2012

Peixe pequeno

P ermissão para tergiversar.  Permissão concedida. A ocasião convida à reflexão demorada. Efeméride tardia marca sete anos do blog.  Era julho de 2005 quando resolvi que seria saudável administrar um espaço privado na internet. Um cantinho onde me sentisse à vontade para flanar de cueca e sapatear na própria lama das ideias miraculosas. Tinha 24 anos. Assim nasceu o auspicioso “P&D”, blog de pouca chacota e muita lamúria. Influência direta da leitura d’O blog de Bagdá. Foi no P&D que dei início ao meu projeto Sanear II. Lá enterrei as primeiras fornadas de resíduos sólidos produzidas em escala industrial. Aqui estamos, sete anos depois. A expressão – P&D – foi cuidadosamente pinçada de um romance do Marcelo Mirisola. Para quem não lembra, o Mirisola era o escritor mais “polêmico” da época, título a que se juntava o de mais chato. Atualizava o blog clandestinamente, no trabalho, e algumas vezes em casa, nas horas de folga, e tanto num caso como n

Fim de papo

Comentário ligeiro após rever Melancolia . A história do planeta azul, tristinho, que vem de muito longe para colidir com a Terra e apagar de vez esse tópico vergonhoso no Lattes do criador. Ainda no comecinho, quando Melancolia, o planeta, era facilmente confundido com mais um esquisitão estelar de perfil exuberante a fulgurar no céu de Gagárin e Armstrong, tudo corria bem. Sete bilhões de pessoas habitavam a mesma casa e se sentiam mais ou menos satisfeitos com os rumos da espécie. A constelação de Escorpião não era propriamente uma preocupação da humanidade. Sendo assim, tínhamos total liberdade para cumprir o que pedia a determinante-matriz de nossas vidas: consumir. Como acontece em qualquer filme de aventura, alguma coisa daria errado. O terror se justifica: mesmo distante, Melancolia não fazia crer que alteraria sequer um milímetro sua rota apenas para garantir que seguíssemos comemorando aniversário e réveillon. “Chacina interestelar”: tick. Fomos destruídos, co
Foi sem intenção, sem vontade, sem querer, repetia havia muito tempo, uma gag sonora conhecida dos amigos. Certa noite fez-se a pergunta inevitável: o que acabara de falar carregava alguma verdade? Estava sendo absolutamente sincero? Favor justificar a resposta. Duvidava, mas duvidar tampouco era atividade que gozasse de uma áurea de inabalável respeitabilidade. Conhecia tipos asquerosos cuja obra dilapidava certezas e punha abaixo verdades escandalosas. Surpreendente não era que duvidasse da felicidade quando feliz ou da infelicidade quando infeliz. Surpreendia-o que o terreno jamais parecesse suficientemente concreto. Posso caminhar, afirmava, mas logo vinha o tropeço num desvão qualquer da calçada. Essa dúvida persistente, responsável por tombos mesmo quando encarava um pavimento ideal: essa dúvida recebia farto provimento de ração. Era alimentada. Equilibrava opostos, aproximava distantes. Exercício antigo, mas não ultrapassado: pronunciar vagarosamente cada palav