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Mostrando postagens de outubro 31, 2015

Equilibrista

Inflação de superlua e asteroides que vão passar raspando na terra no próximo fim de semana e excesso de eventos atípicos que se tornam corriqueiros de uma hora para outra sem aviso prévio nem explicação. Uma falta ampliada que salta e engole tudo. Opacidade. Fiquei de responder e deixei pra lá. E agora esqueci o que tinha ensaiado como resposta. De modo que tenho apenas as palavras do dia, nada rebuscado nem refletido. Impressões de agora. Dois caminhos se bifurcam e não se encontram. Velocidades são assim mesmo: as pessoas se ultrapassam no tempo. Umas correm mais que outras. Outras olham para os lados ou pra frente. Eu olho pros pés e pra cima. Procuro ajuda no teto do bar onde agora peço mais uma cerveja. Eu não deveria. O deserto está florido. Cheio de um rosa atapetado e ao fundo as montanhas numa coloração indefinida entre cinza e verde claro. Lembro quando o deserto costumava ser árido e infértil. Duas pessoas caminham na mesma direção mas em sentidos opos

Notas animálicas iii

E a terceira parte, como a terceira parte de qualquer coisa, não encerra nem elucida, mas amplia a falta. Na literatura e no cinema, a falta é o leitmotiv. Está em tudo e em todo lugar. A falta empurra protagonistas para outra geografia, para outro mundo, para outra dimensão, para outro corpo etc. A falta de amor, natureza, amizade, dinheiro e sexo, a falta de braços, a falta de dentes, a falta de pau e de buceta, a falta de cabelos, a falta de sentido e a falta de falta. A falta de falta é das piores: olha-se ao redor, e nada está faltando. Está tudo no lugar: eu estou aqui, ela ou ele está ali, a casa está arrumada e os lençóis, lavados, as passagens para a viagem compradas e o cachorro banhado. As contas pagas e a pia, sequinha. Pesco uma conversa de ouvido: tudo que eu tenho é tão valioso e importante. E cita como exemplos a casa e o carro, mas também casamento e filhos e a sensação de finalmente haver encontrado paz. Segue-se uma breve discussão sobre felicidade

Notas animálicas ii

E isso tudo tem a ver com não saber/não conhecer. Notas etc. O livro novo: "O Pai Morto". Donald Banthelme. Notas novamente. Uma carta. Uma esquina. Um cheiro esquisito mas ainda interessante. Um rosto que se perdeu no tempo depois de tudo e agora se diverte ao virar uma fumaça fugidia. Perfumes. Não saber/não conhecer praticamente define não apenas a razão pela qual alguém começa a escrever, como também constitui um dos motivos por que estamos/não estamos aqui: não sabemos, tampouco conhecemos. E, mesmo assim, tudo se encaixa e cria essa ilusão fantástica de que há uma narrativa se desenrolando sob o nosso nariz quando, na verdade, o que acontece é que alguém deixou a vitrola na sala tocando uma música qualquer e foi pra rua apanhar borboletas um dia antes do Natal e não voltou mais.

Notas animálicas

Estavam conversando sobre perfumes quando ela falou notas animálicas, foi pesquisar na internet, mas desistiu em seguida. Não queria saber, queria imaginar.  É sempre melhor. Não o que acontece, mas o que poderia acontecer. Mas sobre isso não conversaram muito tempo, apenas perfumes e também o episódio de uma série que ela achava incrível e ele não, de modo que não avançaram no papo. Notas animálicas? Como soavam? Fezes, suor, excrescências de animais. A secreção como uma nota dissonante e de gosto duvidoso, mas essencial. A ideia de essência, uma fragrância a que se adiciona uma substância ou princípio ativo contrário. O baile perfumado de aromas que não se misturam. Para fixar bem na pele, ela explicou, é preciso adicionar uma nota animálica a qualquer perfume. Jasmins e fezes. Alfazema e suor. Um artificialismo que não se sustenta senão com o auxílio dos fluidos básicos. Um cheiro de fora que se imiscui ao de dentro para formar um cheiro único. Notas an