Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de outubro 29, 2016

Voto

Meia noite e quinze, então já é domingo, esse dia estranho em que milhares – milhões – de pessoas têm de tomar uma decisão, por uma razão ou outra. Escolher um lado, um nome pra chamar de melhor ou pior, mas sempre em relação a outro nome. Logo, a outro grupo de eleitores, cujas motivações são igualmente legítimas e sinceras e honestas – presumidamente honestas – quanto as do primeiro grupo. Tudo isso em tese. Tudo isso em tese. Na prática, há sempre um veja bem, meu bem. Hoje não é diferente. Há razões pra tantos gostos estranhos, e às vezes o gosto normal esconde uma fruta podre. Como o hábito saudável, o corrupto. Há razões que nenhuma razão explica, disse Drummond ou foi Clarice Lispector ou alguém se passando por Drummond ou Clarice num perfil falso. Um mal-entendido que se desfaz com o Google. Voltando. Esse dia estranho. O voto. A certeza de que influencia no jogo, que decide, que contribui para formar esse quadro que se desenha algumas horas depois, votos

Espera

Fico dando voltas, como alguém na esquina que espera. Sem saber, espera. Dou mais uma volta. E outra. E mais uma. Espero que aconteça. Finalmente, vai acontecer. Espero mais um pouco. Não acontece ainda. Penso que não chegou a hora, a hora certa, a hora que cada coisa escolhe para ser o que de fato é. Aquela hora em que olhamos e pensamos: tinha de ser. Não era. Ainda. Não, por enquanto. Fingiu esperar mais um pouco antes de ir embora e se perguntar se não deveria ter esperado além do tempo que as pessoas habitualmente esperam algo pelo qual já não têm esperança. Esperar por birra, por farra, porque não é como qualquer um, e, além do mais, esperança é um conceito quase cristão. Ele não era. Não é cristão. Então esperou. Depois foi embora.

O dia do mês

Vamos ver se consegue agora que já não tem tanto tempo, apenas o tempo que falta, e o tempo que falta é sempre esse ponto indeciso entre o que passou e o que vem pela frente. Que época difícil, que ano difícil, que semana idem, ontem mesmo foi um dia bem complicado, mas hoje talvez não seja – acabou sendo.    Ontem saí e dei dois passos adiante, quando queria mesmo era recusar, andar pra trás, recuar no tempo e no espaço, não um retrocesso cronológico, tampouco material, mas regredir num certo aspecto que até acho difícil de explicar. Uma volta a algo que nem existe mais, talvez nunca tenha existido, um retorno a um estado de latência, de potência, nada acontecia ainda, apenas semente. Bobagem, penso depois, porque todo estado é resolução e a verdade de um anterior, logo, nada de quadros estáticos em que vislumbramos o mundo como acontecimento por vir. Tudo está sempre vindo. A gente dá de cara com as coisas porque quer. Porque anda desatento. Porque tenta desviar e não c