Meia noite e
quinze, então já é domingo, esse dia estranho em que milhares – milhões – de pessoas
têm de tomar uma decisão, por uma razão ou outra. Escolher um lado, um nome pra
chamar de melhor ou pior, mas sempre em relação a outro nome. Logo, a outro
grupo de eleitores, cujas motivações são igualmente legítimas e sinceras e
honestas – presumidamente honestas – quanto as do primeiro grupo.
Tudo isso em
tese. Tudo isso em tese.
Na prática,
há sempre um veja bem, meu bem. Hoje não é diferente.
Há razões
pra tantos gostos estranhos, e às vezes o gosto normal esconde uma fruta podre.
Como o hábito saudável, o corrupto.
Há razões
que nenhuma razão explica, disse Drummond ou foi Clarice Lispector ou alguém se
passando por Drummond ou Clarice num perfil falso. Um mal-entendido que se
desfaz com o Google.
Voltando. Esse
dia estranho. O voto. A certeza de que influencia no jogo, que decide, que
contribui para formar esse quadro que se desenha algumas horas depois, votos
apurados e rosto conhecido e nome anunciado.
Eis o
escolhido. Mas logo ele?, dirão alguns. Que bom que seja ele, responderão
outros.
E esse terceiro grupo, para o qual o primeiro é ruim e o segundo, pior, se senta a um canto da sala de festas e resmunga qualquer coisa sobre os rumos do país etc., cabeceando justificativas para o injustificável. Tal como fizeram os integrantes do primeiro e do segundo grupos.
Escolher não
é tarefa das mais simples. O voto no segundo turno é uma coação. Não pode ser
como uma partida de futebol, em que se fica sempre do lado do mais fraco. Ou do
pior. Ou da cor de camisa mais bonita.
Nem como no
amor, em que simplesmente não se escolhe nada, indo-se em frente segundo
comandos involuntários que só serão plenamente entendidos muito tempo depois.
Votar é selecionar, seccionar, dividir, analisar, revirar do avesso, enxergar à contraluz e, se for o caso, jogar fora.
Votar é selecionar, seccionar, dividir, analisar, revirar do avesso, enxergar à contraluz e, se for o caso, jogar fora.