Vasculhava a estante à procura de sabe-se lá o quê quando parei numa foto da festa junina da escola da minha filha em 2019. É uma imagem recente, reconheço a camisa que usava. Tudo nela ainda se mantém fresco. Mas pareço outra pessoa. Mais jovem, menos cabelo branco, mais sorridente, menos pesaroso do que hoje. Desconfiado, tento me convencer de que era o ângulo, a luz, o filtro, mas sei que não era. Ninguém da família havia morrido até então. Nunca ouvira falar de Covid, tampouco de vacina ou de cloroquina. Tinham se passado apenas seis meses de governo Bolsonaro. Eis a diferença entre o eu de agora e aquele. Menos de dois anos depois, tenho a sensação de que envelheci mais do que esses pouco mais de mil dias. Envelheci mais do que supunha que envelheceria, do que costumo envelhecer de um ano para o outro, mais do que os 40 anos completados em meio à quarentena fazem crer. Vou ao espelho confirmar essa teoria. Checo a raiz dos cabelos, inspeciono rugas, mapeio a fronte e o alto da cab
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)