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Mostrando postagens de setembro 21, 2020

A mãe

A mãe tinha um segredo, não que o escondesse, ela simplesmente tinha, como se possui uma gagueira ou um tique do qual não se tem consciência embora desde cedo esteja ali. Era esse tipo de segredo que tinha a mãe, talvez uma história, uma riqueza particular, uma origem duvidosa, uma abdução, uma face monstruosa sob a doçura dos traços passivos, um terceiro braço que lhe havia crescido imperceptível e que mesmo hoje o disfarçasse tão bem que passara incógnito. Mas estava ali, sob a claridade, à mercê de quem a olhasse mais de perto, coisa que eu costumava fazer naqueles dias tumultuosos que antecederam a saída do pai de casa. Eu tinha 14 anos, talvez um pouco mais, e me sentia surpreendentemente feliz quando o portão bateu e dentro ouvimos o silêncio e no meio do silêncio o oco deixado por ele.