E o que dizer do pôr do sol em Marte, o planeta vermelho, o último da região telúrica, o mais próximo da cordilheira de resíduos estelares? Marte, refúgio sideral, Pasárgada dos desajustados, montículo de nada, anexo sem serventia, grande balcão de negociantes fantasmas. Marte, uma Terra que não deu certo, sem aprumo, sem eira nem beira, sem ministério nem mistério. Marte, a locomotiva solitária de sonhos interrompidos. O maior cânion, o maior vulcão, a maior varanda desabitada do sistema solar. A grande promessa não cumprida do turismo intereslelar. O único deus da guerra a nunca ter esmagado sequer uma formiga. Vermelho, distante, confuso, ambíguo, atmosfera irrespirável, solo pedregoso, vegetação inexistente. Ainda assim, uma ida a Marte valeria qualquer pôr do sol terráqueo, uma passada por Marte e daria todas as tarefas por encerradas, uma escapada a Marte e quedaria satisfeito ao final do dia, cansado da gravidade, da preocupação com neutrinos, da conta de internet,
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)