Tanto tempo. Vi “Burn after reading”. O que achei? Bom, achei que o humor negro sai perdendo. Quando ele chega, surpreende. As pessoas no cinema se assustaram. Entreolharam-se. Não esperavam nada do que viram. Explico: uma coisa é ser previsível. Não é o que estou pedindo. Outra diferente é pavimentar o caminho para uma escolha que será feita posteriormente. Sacaram? Um personagem todo contido não pode, nas cenas finais, dançar na chuva. Ou pode? Talvez o exemplo seja mesmo ruim. O cinema já foi um lugar tranqüilo. Sim, já foi. Ontem tive de fazer algo que me desagrada muitíssimo: chamar a atenção de alguém. Não sei fazer. Se me pedem para fazer qualquer coisa – desarmar uma granada que algum maluco instalou atrás do bebedouro da escola, eu vou lá e faço. Agora, não me peçam para dizer a quem quer que seja que, caso ela continue a chutar a droga do assento ao meu lado alguma coisa muito errada vai acontecer, isso eu não consigo. Não mesmo. Pois foi exatamente o que aconteceu no cinema.
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)