Não sei se repito essa história, mas já fui Cristo na escola. Um Cristo mirim, sem muito empenho artístico, cabisbaixo, quase introspectivo, o que é o contrário do Cristo eloquente e viajante, pregador e libertário. Talvez por isso tenha apanhado de verdade quando os romanos – alunos da 5ª série C – me prenderam e, com pedaços de pau, me açoitaram por uns cinco minutos, descarregando toda sorte de mágoas da vida escolar num colégio da periferia da cidade. A coisa toda era bem real, a valer. Naquela época não trabalhávamos com nada cenográfico, não conhecíamos espadas de papelão nem arcos de celofane. O cajado era de madeira, o arpão, de ripa de construção, de modo que, quando Cristo era castigado, eu apanhava realisticamente. Algo parecido com o treinamento da Fátima Toledo e com o método de Stanislavski, embora não conhecêssemos nem a preparadora de elenco de “Tropa de elite” nem o diretor e escritor russo, famoso por seu desejo de que os atores e atrizes incorporassem emoções. E lá
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)