Às vezes me pergunto o que é o Eusébio, a cidade.
Aquele ajuntamento de casas com um estirão de terreno na frente e atrás e três carros na garagem, duas SUVs brancas e um esportivo azul metálico, pouca gente nas ruas, embora haja shopping e centro comercial de fazer inveja a qualquer grande município.
O Eusébio é um lugar curioso, tem aquele ar de bairro planejado, uma cara de condomínio fechado sem ser de fato, um zeitgeist de parque aquático, mas sem parque.
Seu ethos é o da exclusividade, escancarado nas ruas com vigilância motorizada e porteiro eletrônico, vigias armados e blindados circulando aqui e acolá.
Mas é também bairro residencial simples, com churrasquinhos na esquina, com suas construções populares, muros caiados de verde e amarelo que rebatem a luz do sol naquele pedaço, fazendo cegar quem se atreva a encará-los.
Tenho receio de atravessar o Eusébio, sempre imagino que serei parado por um guarda que me pedirá então o passe para cruzar a cidade.
Não é qualquer um que passa pelo Eusébio, ele dirá kafkianamente atrás dos óculos espelhados, não imagine que isso aqui é uma região de trânsito livre, um reles município.
Eu lhe pedirei desculpas e alegarei que não sabia da cobrança, que na próxima vez encontrarei uma maneira de estar devidamente munido do que for necessário para cumprir o rito de travessia pelo Eusébio.
E aí seguirei viagem, seja para onde for, mas no caminho irei pensar ainda sobre o que é o Eusébio de fato, se é um lugar como Tejuçuoca ou Itarema ou um bairro ultrarrico de Fortaleza que se autonomizou, um braço que ganhou vida própria.
Ou, como no livro de Saramago, uma quina que se desprendeu do continente e saiu para o mundo, à deriva, como uma arca de Noé modernosa transportando a salvo seus poucos escolhidos.
E se for isso mesmo? E se o Eusébio for o éden dos endinheirados, “paradise” dos bem-nascidos que, cansados da violência da capital, mudam-se para lá aos montes, invertendo agora os fluxos migratórios, orientando-se como algumas aves voam para sobreviver?
Assim como fizeram com o litoral, de onde expulsaram pescadores e populações ribeirinhas, gentrificando o espaço e construindo seus bunkers, a espaçonave do PIB embicou para lá, fazendo do lugarejo o seu porto-seguro.
O Eusébio seria então uma cidade mais parecida com um shopping que o dinheiro pode comprar perto do trabalho, sem sair do Ceará, a um pulo de carro do centro comercial de Fortaleza, mas sem o incômodo de morar em Fortaleza.
Eu entendo isso. Eu mesmo cogitei em algum momento mudar para o Eusébio. Comprar uma casa, fazer instalar uma piscina e um chuveirão no deque, onde nos finais de semana eu seria feliz sem colocar os pés na rua. Faria de lá meu Beach Park, minha praia privada, minha Jeri, minha Peroba.
Mas desisti da ideia dez segundos depois.
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