Das expressões de fala corrente, dessas que usamos sem ver nem pra quê, feito uma peça de roupa mais querida de que nos servimos no dia a dia, uma das que mais gosto é “pois bem”, que empregarei sem aspas de agora em diante, como se tirasse a chinela antes de entrar na casa alheia. Pois bem, explico por quê. É uma marca forte de oralidade, de história que se conta e cujo fio da meada não se perde nunca. Pois bem. Quem faz uso dela tem sempre em mente que o outro dispõe de pelo menos meia hora para ouvi-lo. Pois bem. Logo, está-se diante de interlocutor que acompanha tudo, detalhe por detalhe, e cada lance se lhe afigura como uma novela radiofônica, com os personagens se alternando e suas ações lentamente convergindo para um clímax que ainda não se sabe qual é, mas cujo véu vai se descobrindo a pouco e pouco. Pois bem. Quando se topa com isso, o ouvinte sabe que não é historinha ligeira, que se narre em dois minutos sem recorrer ao cacoete linguístico, que tem a função aí de pedir pa
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)