Enquanto pedia pra fechar as cortinas expliquei que tinha sensibilidade à luz, que sempre escolhia a penumbra, que sentava na mesa do café da livraria e dizia imediatamente à atendente que desligasse a lâmpada, assim ficaria melhor. Isso mesmo, sem esse foco de luminosidade apontado pro meu rosto, depois um café e em seguida a conta, as outras mesas ocupadas por um homem digitando no computador, uma mulher à espera, um homem olhando pro relógio de tempos em tempos, alguém dando lições de inglês para três estudantes, um gerente explicando noções de atendimento a uma jovem, uma senhora de cabelos brancos curtos e olhos claros voltados diretamente pra mim como se adivinhasse as razões pelas quais tinha acabado de pedir que desligassem a luz. E então o quarto escureceu e eu rolei pro lado e nos abraçamos, rostos agora ajustando-se à falta de luz. Mas e quando sai de bicicleta? É o único momento do dia, acho que faço de propósito, muita luz, muito sol, o mar, tudo é excesso
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)