Uma frase
que contasse a história dos últimos dias, sendo os últimos uma repetição de
todos os dias, dos primeiros, quando tinha de cavar com as próprias mãos, aos derradeiros,
quando desistiu de enfiar-se no buraco, mas sabia que a repetição era falsa e a
continuidade, apenas aparência, no fim das contas tudo possuía essa qualidade de
estender-se no tempo sem que necessariamente houvesse uma razão, apenas o
encontro, apenas presença, apenas um passo que se segue a outro e outro e
depois outro, como acontece com tudo, como aconteceu naquele dia na saída do
cinema.
Nessa frase,
precisava deixar tudo claro, quase tudo, mas a clareza não é apenas uma dificuldade
estilística.
Tudo isso ficaria
evidente logo no início. Mas não era assim. Nunca tinha sido. Ele adivinhava
que agora, depois dos trinta, não estaria tão cansado, mas está. Talvez passe. Talvez
não passe.
“Horses”, de
Patti Smith. Toca na TV. É tão fora de órbita numa manhã de sábado, hora do
almoço, essa voz chorosa impondo a toda essa luz uma sombra desagradável.
Mas bem-vinda.