Que se escreva não à noite, mas durante o dia, por
alguém que acredite ser noite e não dia, que troque as horas e as luzes, que
confunda claro e escuro e de vez em quando até nem veja diferença entre uma coisa
e outra, estando e não estando, alguém cuja falta de capacidade para distinguir
mudanças climáticas e pequenas alterações não seja um embaraço, um fardo, mas
um motivo de alegria, um contentamento qualquer como dinheiro encontrado no
bolso da calça dobrada no espaldar da cadeira.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...