Cada nome revela um segredo. É possível adivinhar. Basta esquecer. O nome casa, ou sorvete, ou prato e sujeira e axila e cheiro. Boceta, pau, peito, bunda, perna, língua. Nome é tudo igual.
A sílaba
parada, suspensa e só, depois outra e outra.
O nome, essa
arbitrariedade que o significado conserta. A alma que existe ali, nós
inventamos.
Na criança
que fui, tinha essa mania de olhar o telhado sem coberta de cimento, apenas
telha e madeira na trama que protegia da chuva e sol.
De manhã
cedo, tipo seis horas, o sol entrava de lado, meio filtrado, entre o telhado e
a parede, a imagem se invertia e quem passava na rua ficava de cabeça pra baixo
na parede. Eu, na rede, assistia ao filme mudo das sombras de ponta-cabeça
ainda meio sonolento, mas admirado que fosse assim. Eu gostava que fosse assim.
O teto
virava uma câmara escura, projetando o movimento. Quem ia, voltava, quem
voltava, ia.