Pular para o conteúdo principal

O que será que será



Sobre política, com perdão.

Foi a pior semana do Eduardo Cunha desde o anúncio pela PGR de que era um dos investigados na lista de Janot.

Senão vejamos.

1. Na tarde de hoje, o mesmo Janot, em resposta ao pedido de anulação das provas colhidas na Câmara na operação Lava Jato, respondeu que Cunha usa a AGU e a própria Câmara em benefício próprio. 

2. Empresa contratada ao custo de R$ 1 milhão para rastrear contas no exterior de envolvidos na Lava Jato, a Kroll desistiu de esperar a CPI da Petrobras. O objetivo explícito da investigação paralela era ferir a credibilidade das informações prestadas em delação premiada, de modo a questionar a autenticidade dos dados no âmbito do processo. Com a desistência, a CPI, além de torrar esse milhãozinho à toa, fica a ver navios. 

3. Com Renan bandeado de vez para os lados do governo e Temer na articulação, Cunha, o terceiro cacique do PMDB, prega sozinho no deserto.

4. Ministro do STF decide que contas do governo serão, de agora em diante, julgadas conjuntamente por Senado e Câmara e não mais como Cunha desejava, cada qual no seu quadrado, o que facilitaria a rejeição na Casa que preside. Articular deputados é uma coisa. Deputados e senadores, outra.

5. Adiamento da análise das contas do governo referentes ao ano de 2014. 

Resumo da ópera: a dois dias da manifestação que pedirá a sua saída, Dilma consegue respirar mais aliviada. Com a ajuda da tropa de choque formada por Lula, Levy, peemedebistas do Senado e alguns ministros, ela conseguiu: isolar seu pior pesadelo hoje, o presidente da Câmara; e mais tempo para responder ao TCU sobre as pedaladas – 15 dias -, o que inevitavelmente adia também o julgamento das contas, afastando-o das manifestações de domingo.

 A presidente também viu sua base começar a se recompor no Senado a partir do anúncio da “Agenda Brasil”. Importa menos o conjunto de propostas, muitas das quais tão bombásticas quanto as da pauta-bomba de Cunha, do que o gesto de proximidade num momento em que a popularidade de Dilma rasteja a 8% e o governo é ameaçado de deposição.  

Para fechar a semana do Planalto, talvez a melhor desde o início da crise, ao decidir que as contas presidenciais serão analisadas em sessão conjunta, o ministro Luís Roberto Barroso entregou a condução do julgamento da contabilidade do governo em 2014 às mãos de Renan Calheiros.

Um dos investigados na Lava Jato, Renan passa a fiador do governo, função que exercerá ao lado de Temer e Levy.

Temer e Renan, fiadores políticos. Levy, fiador junto ao mercado.

E Dilma? A função de Dilma será não cair.

E Lula?

Lula organiza a casa para 2018 - seja para ele, seja para outro político que se cacifar até lá. 

E a oposição?

Meu palpite: investe todas as fichas no TSE, que, na tarde de hoje, deu mostras de que irá investigar a chapa vencedora das eleições do ano passado.

Postagens mais visitadas deste blog

Projeto de vida

Desejo para 2025 desengajar e desertar, ser desistência, inativo e off, estar mais fora que dentro, mais out que in, mais exo que endo. Desenturmar-se da turma e desgostar-se do gosto, refluir no contrafluxo da rede e encapsular para não ceder ao colapso, ao menos não agora, não amanhã, não tão rápido. Penso com carinho na ideia de ter mais tempo para pensar na atrofia fabular e no déficit de imaginação. No vazio de futuro que a palavra “futuro” transmite sempre que justaposta a outra, a pretexto de ensejar alguma esperança no horizonte imediato. Tempo inclusive para não ter tempo, para não possuir nem reter, não domesticar nem apropriar, para devolver e para cansar, sobretudo para cansar. Tempo para o esgotamento que é esgotar-se sem que todas as alternativas estejam postas nem os caminhos apresentados por inteiro. Tempo para recusar toda vez que ouvir “empreender” como sinônimo de estilo de vida, e estilo de vida como sinônimo de qualquer coisa que se pareça com o modo particular c...

Cidade 2000

Outro dia, por razão que não vem ao caso, me vi na obrigação de ir até a Cidade 2000, um bairro estranho de Fortaleza, estranho e comum, como se por baixo de sua pele houvesse qualquer coisa de insuspeita sem ser, nas fachadas de seus negócios e bares uma cifra ilegível, um segredo bem guardado como esses que minha avó mantinha em seu baú dentro do quarto. Mas qual? Eu não sabia, e talvez continue sem saber mesmo depois de revirar suas ruas e explorar seus becos atrás de uma tecla para o meu computador, uma parte faltante sem a qual eu não poderia trabalhar nem dar conta das tarefas na quais me vi enredado neste final de ano. Depois conto essa história típica de Natal que me levou ao miolo de um bairro que, tal como a Praia do Futuro, enuncia desde o nome uma vocação que nunca se realiza plenamente. Esse bairro que é também um aceno a um horizonte aspiracional no qual se projeta uma noção de bem-estar e desenvolvimento por vir que é típica da capital cearense, como se estivessem oferec...

Atacarejo

Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...