Gosto de receber e-mails cujo título é “vale este”, que normalmente se seguem a outros intitulados “versão final” e antecedem aqueles que se chamam, num tom quase desesperado, “vale este mesmo” ou VALE ESTA VERSÃO FINAL, a caixa alta denotando explicitamente que o provisório agora é definitivo, no que incorre, novamente, no engano de supor que qualquer ponto final da escrita do artigo ou da tese ou do que quer que seja signifique por si o fechamento da história.
De modo que mesmo o “vale este” que inaugura essa comunicação entre duas pessoas, normalmente um orientador e um orientando, é um ato de fé, um pedido de suspensão da descrença do destinatário, que teria de aceitar ingenuamente que apenas essa mensagem ou essa versão do escrito é válida, e não a que levou a ela, ou seja, o seu rascunho.
Afinal, por que descartar o ensaio do definitivo se podemos tomar como parte desse VALE ESTE todas as tentativas e erros colecionados no processo, adiando por fim esse momento no qual decretamos o fato certo e instituímos o real?
Comentários