Demoro a voltar, estou longe ainda, no corpo um ritmo de férias que se instalou e do qual custo a sair, uma incapacidade para qualquer coisa que não seja estar à solta, sem as balizas das horas regradas de todo o tempo. As horas da semana, dos dias, do calendário. Horas impróprias, maçantes, de uso comum, feitas para funcionar.
Decido então que escrever assim talvez me faça reemergir aos poucos, reavendo certo domínio do gesto físico de encadeamento, gesto cumprido mais facilmente quando no correr dos meses de janeiro a junho, antes dessa parada que faço agora em julho.
Na retomada se escancara a dimensão não natural de tudo isso, o caráter forçado mediante o qual tenho de me valer do exercício diário para que esteja de prontidão, como um goleiro cujo olhar não desgruda da linha do campo, a tensão sempre em riste.
Volto aos bocados, esvaziando sem pressa os bolsos da areia que trouxe de longe, depois misturada às roupas que reviram na máquina. Areia caída pelos cômodos da casa, varrida e aí levada ao lixo, restos de comida e pedaços de embalagens.
É um retorno difícil após todo esse tempo durante o qual estive mais longe do que imaginei, difícil porque me acostumo fácil a simplesmente estar sem escrever, apenas lendo o que me cai nas mãos.
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