Escrevi o que podia, esvaziei. Fiquei repleto
de nada. Fui de ponta a ponta a correr se via quem passava na rua. Os vultos,
as pernas, a saia. Estive por horas perto de cair do batente. Arrisquei um
salto quando suspeitei que fosse. Não era.
Enchi e copo e bebi muitas vezes. Fui e
voltei, achei que morreria se não estivesse novamente prestes a. Duvidei de que
conseguiria. Me certifiquei de que era. E era de fato.
Agora chego ao final. Um tempo revoltoso. Queria
defini-lo, mas não cabe numa palavra. Queria ignorá-lo, mas cortou o corpo. Tampouco
poderia dizer que se trata de um ano como qualquer outro. Não foi. Não será. Um
golpe de mar, um braço de areia que se levanta animado por tal humor perverso e despenca, fazendo levantar uma nuvem sobre a cidade.
Ele que viu o abismo.
Não os clichês de queda e superação. Mais tropeços
e ferida. Mais nudez e morte e delírio. Mais o fogo e a fome e a falta. Mais os
dias todos passando como um tropel de bestas em estouro pela vida afora. E, no
entanto, o ano termina. Contrariando expectativas, termina.
E o que virá é uma estrada? O que virá é
acidente? O que virá é dança? O que virá é esse coração na areia? Não morra de sede tão perto da água.
Então vestiu-se de feriado, entrou na piscina
e nadou até a borda, e depois até a outra borda. Esteve assim por muitas horas,
o sol crestando a pele, os pelos como que louros nos braços bronzeados, o
ventre aquecido por mão invisível.
Não morreria.
Não morreria.
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