Esta não é a mãe do Teddy. Talvez até seja a mãe de alguma pessoa.
E para que ninguém fique pensando que outra pessoa, por pura negligência minha, conseguiu a senha do computador e do email e escreveu tudo antes, narro agora Eventos da Madrugada, como a cena final do filme que está passando. Nela um ursinho de pelúcia chamado Teddy tira do bolso uma mecha do cabelo de uma mulher e então o menininho, que estava conversando com os extraterrestres, pelo menos acho que é isso que eles são, o menininho faz um pedido, ele quer a sua mãe de volta e é exatamente isso que eles fazem, trazem a mãe do garoto de volta à vida.
Eu
não sei o que acontece com o urso Teddy.
Na
rua, as bandeiras da Copa do Mundo tremulam produzindo um barulhinho bom de
chuva, até confundo com chuva quando quero confundir, ou com mar se estou num
desses dias românticos.
Por
um segundo a gente esquece que mora no apartamento X na Rua Y no bairro Z e
concentra o pensamento numa duna móvel, em chuva e água do mar, tudo ao mesmo tempo,
e então tudo acontece. Ou nada, a depender do dia e da sorte.
Um
carro do lixo passa. Os homens conversam enquanto recolhem os sacos que ficam
nas portas dos condomínios, sacos azuis, verdes, mas principalmente brancos. Os
homens parecem alegres. Talvez seja por causa das bandeirinhas com som do mar,
talvez por causa da diversidade cromática dos sacos, eu nunca irei saber.
O
filme termina, a mãe reaparece. O carro vai embora. Amanhã tem mais lixo. O urso
vai morar com eles numa casa com piso de madeira. É um idílio doméstico. Como o
urso e o menino, também é falso.
Um
parêntese: o itálico não tem uma explicação especial, foi assim que comecei a
escrever sobre outro texto, este originalmente em itálico, e quando vi já
estava escrevendo e publicando em itálico, o que me fez pensar que estava
novamente em 2012 – esse texto original é de 2012, o ano do apocalipse maia ou
inca, não lembro agora. Estava com preguiça de mudar a formatação ou de tentar
entender por que gosto tanto dessa história.
Com
o tempo, a gente acaba descobrindo que gosta de poucas coisas, ou que poucas coisas importam no fim das contas, o que não deixa de ser um alívio.
Mas o tempo sempre escorre.
Ps.: o filme que começou agora tem zumbis e uma loura bonita. Na rua faz silêncio.