Uma tarde que passa arrastada, que antecede uma
segunda e uma terça e também uma quarta, que é uma antes do fim do dia e outra
no começo, que se desfaz lentamente e logo se recupera. Uma tarde assim não custa a passar. Uma tarde assim dura por quanto tempo for necessário.
Dez longas tardes passadas em espera.
Andar pela casa, recolher roupas, enfiá-las
na máquina goela abaixo para que percam as marcas e os cheiros da semana, para
que voltem limpas de toda nódoa, para que estejam novamente prontas ao uso,
para que se embaracem mais uma vez nesse cheiro que nunca passa.
As nódoas, a areia nos bolsos que trazemos da
praia, as marcas de elástico das roupas na virilha e pernas, o bronzeado de
mangas e golas, os cortes nos dorsos porque não aprendemos ainda a segurar pedras
sem deixá-las cair.
Os grãos depois no chão do banheiro. O sol
que espantamos com água e xampu, cabelos embaralhados como cartas e ombros
queimados como se postos para secar no quintal a ver se ganham uma tonalidade
amorosa, a ver se recebem mais que a lambida quente do sol.
Andar e perder na casa os cheiros da rua, entrar eu mesmo no chuveiro e ali deixar escorrer a água farta de expectativa, estar mais uma vez fora e pronto.
Andar e perder na casa os cheiros da rua, entrar eu mesmo no chuveiro e ali deixar escorrer a água farta de expectativa, estar mais uma vez fora e pronto.
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