Sessenta anos atrás, uma cadela foi enviada
ao espaço pra que vagasse por cinco dias ou cinco horas. Autoridades divergem sobre quanto tempo Laika
– era o nome dela – teria suportado antes de morrer.
O barulho, o calor, tudo era excessivo para o
organismo frágil de uma cachorra lançada ao infinito. De todo modo, era o marco
de uma disputa entre potências, e num caso assim fica claro que o que menos importa é o que pensa ou quer um bicho sem arbítrio.
Seguiram-se novos episódios de tensão nessa
corrida espacial. Lançamentos de satélites, cosmonautas aventureiros e,
finalmente, a chegada do homem à Lua.
Há uma dúzia de filmes sobre os passos da
humanidade no espaço, grandes ou pequenos.
Nenhum deles é sobre as últimas horas de
Laika, que talvez vague ainda hoje como poeira, estrela, como rastro de meteoro
colidindo com outros pedaços de mundos em decomposição.
Disseram que havia comida suficiente para
poucos dias. Então, desde o início, a intenção era projetar o animal como quem atira uma pedra ao mar e espera que ela flutue. Mas a pedra afunda. É natural que afunde.
De tudo, porém, o mais comovente é a foto de
Laika em seu módulo. Quase sorri. Como se descansasse em casa depois de um dia inteiro ladrando pra nada. Sem saber que, dali a poucas horas, estaria a quilômetros de distância, sozinha, encerrada numa cápsula a temperaturas altíssimas.
No que estaria pensando? "Eles não sabem o que fazem", talvez.
No que estaria pensando? "Eles não sabem o que fazem", talvez.
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