Há duas semanas li nos jornais da cidade
que uma mulher vestida de azul, de aspecto ossudo, com ares de bruxa, uma
mulher que poderia facilmente ser minha tia, os olhos igualmente azuis, mas um
azul esmaecido, já perto de se apagar por inteiro, essa mulher veio do interior
do estado, uma distância imensa, portanto, e, de frente para o mar, mexeu mãos
e braços e sacudiu cabelos na tentativa de impedir que fôssemos todos varridos
do mapa por uma onda gigante.
Somos gratos a essa mulher que não foi paga
para nos livrar da morte, do desterro, da abundância nociva da água, mas,
pensando bem, por que essa mulher, que mora tão longe, quase noutro estado, por
que razão ela resolveu, muito intimamente, que valeria a pena impedir essa onda
gigante que chegaria à costa da capital do Ceará apenas em 2013, daqui a bons três
meses, em dia, hora e data imprecisos?
Não é uma pergunta retórica, apenas
gostaria de entender as bobinas que movimentam a cabeça dessa mulher de
natureza aparentemente frágil, que, em intervalo de tempo inferior ao de uma
hora, afastou uma torre d’água cuja força poria abaixo os arranha-céus da orla
de Fortaleza e, não apenas, o Dragão do Mar, os cinemas, o Bixiga, o Amicis, o
Órbita, o seminário da Prainha, as bancas de revistas, os trailers de cachorro
quente, o Estoril, as praças, o Extra da Aguanambi, o quartel da PM, o que encontrasse
pela frente essa torre d’água destruiria sem pestanejar, e talvez tivesse também
boas razões para tanto.
Quem tem mais razão nessa batalha, porém, é
algo interdito, é decisão que jamais saberemos de todo. O que governa essa
vontade, era apenas o que queria entender, por que essa onda viria, da mesma
forma.