Uma vez surpreendeu a mãe rindo só na cozinha, foi perguntar o que era, a mãe fechou-se, só achando graça das besteiras do teu irmão, menino, o que ele fez, mãe?, nada, deixa pra lá, o pai ainda não tinha chegado do trabalho, era de madrugada, domingo, três da manhã, de repente o sorriso transformou-se em mistério e aquela mulher na cozinha, num completo alienígena, ligou a TV, adormeceu uns minutos depois. O pai não tinha voltado, a mãe agora fazia café.
Numa dessas andanças pelo shopping, o anúncio saltou da fachada da loja: “museu da selfie”. As palavras destacadas nessa luminescência característica das redes, os tipos simulando uma caligrafia declinada, quase pessoal e amorosa, resultado da combinação do familiar e do estranho, um híbrido de carta e mensagem eletrônica. “Museu da selfie”, repeti mentalmente enquanto considerava pagar 20 reais por um saco de pipoca do qual já havia desistido, mas cuja imagem retornava sempre em ondas de apelo olfativo e sonoro, a repetição do gesto como parte indissociável da experiência de estar numa sala de cinema. Um museu, por natureza, alimenta-se de matéria narrativa, ou seja, trata-se de espaço instaurado a fim de que se remonte o fio da história, estabelecendo-se entre suas peças algum nexo, seja ele causal ou não. É, por assim dizer, um ato de significação que se estende a tudo que ele contém. Daí que se fale de um museu da seca, um museu do amanhã, um museu do mar, um museu da língua e por
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