No telefone a mãe fala da viagem, a sobrinha entusiasmada, a tia na menopausa parecia uma arara, a vó detestando tudo que podia, o pai encapsulado na rabugice, o quadro inteiro uma esquete do humorístico Zorra Total, à exceção da própria mãe, mesmo sem querer escondia um segredo qualquer, agonia que viera da juventude, atravessara o casamento e agora saltava como um palhaço no picadeiro naquele hiato incômodo das ligações de fim de semana.
Gosto de como soa atacarejo, de seu poder de instaurar desde o princípio um universo semântico/sintático próprio apenas a partir da ideia fusional que é aglutinar atacado e varejo, ou seja, macro e micro, universal e local, natureza e cultura e toda essa família de dualismos que atormentam o mundo ocidental desde Platão. Nada disso resiste ao atacarejo e sua capacidade de síntese, sua captura do “zeitgeist” não apenas cearense, mas global, numa amostra viva de que pintar sua aldeia é cantar o mundo – ou seria o contrário? Já não sei, perdido que fico diante do sem número de perspectivas e da enormidade contida na ressonância da palavra, que sempre me atraiu desde que a ouvi pela primeira vez, encantado como pirilampo perto da luz, dardejado por flechas de amor – para Barthes a amorosidade é também uma gramática, com suas regras e termos, suas orações subordinadas ou coordenadas, seus termos integrantes ou acessórios e por aí vai. Mas é quase certo que Barthes não conhecesse atacarejo,...
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