Cena.
Outra solução possível é a descrição extrema de tudo que vemos: portas, janelas, cortinas, cheiros, texturas, sentimentos, pessoas, vento, qualidade da imagem da televisão durante uma chuva mais forte, cansaço, rugas, pregas, dores lombares, suco de laranja e luzes noturnas, suor e gás do refrigerante, a curva das costas e o odor do cabelo embaraçado.
Outra solução possível é a descrição extrema de tudo que vemos: portas, janelas, cortinas, cheiros, texturas, sentimentos, pessoas, vento, qualidade da imagem da televisão durante uma chuva mais forte, cansaço, rugas, pregas, dores lombares, suco de laranja e luzes noturnas, suor e gás do refrigerante, a curva das costas e o odor do cabelo embaraçado.
Outra alternativa é simplesmente não se
importar e ir em frente, mas logo chegamos adiante e o trecho que parecia
distante está agora bem debaixo dos nossos pés e o que devemos fazer já não
parece um retrato do futuro que não chegou. O que está adiante é mais como uma
carta enfiada sob a porta ou uma dessas pessoas que julgamos conhecer, mas que
no fundo é alguém com quem trocamos duas ou três palavras em circunstâncias
improváveis e que daquele momento em diante ficou retida pra sempre num vão
cioso da memória.
Uma terceira e última possibilidade é, esgotadas
todas as tentativas, das mais razoáveis às menos, voltar-se pra si mesmo à
procura de qualquer coisa que se pareça com uma resposta, satisfatória ou não,
e em seguida descrever tudo que está ao redor.
E continuar descrevendo até que não faça o
menor sentido aplicar as camadas de cores aos objetos e pessoas e coisas
vagando sem nexo pela cidade.
E seguir por aí afora descrevendo e
descrevendo enquanto dentro de casa reina o silêncio. Talvez aí, sim, a gente consiga algum
sossego, mas é claro que não aposto nisso.