Comecei da mesma forma que todos começam, porque precisava esquecer. Digo todo mundo, mas na verdade há quem entre nesse jogo querendo lembrar. Esquecer e lembrar nunca foram tão diferentes. Não tanto quanto hoje, quanto agora. No fundo, porém, sabia que trapaceava, que escolhia errado, que enganava. Comecei, mas podia simplesmente ter ficado parado, olhando o mar por horas e horas ou dando voltas no quarteirão, quem sabe escolhendo peças de roupa numa loja ou fingindo interesse numa marca de iogurte no supermercado enquanto a fila do caixa rápido esvaziava. Comecei como todos começam, porque precisava esquecer. Agora, olhando daqui, de um ponto que já não parece nem totalmente seguro nem totalmente ameaçado, dou risada se me perguntam por que esperamos tanto tempo.
Afinal, esquecer e lembrar não são tão
diferentes assim. Pelo menos é nisso que gostaria de acreditar numa noite de
quarta-feira.