Teresa era um nome antes de ser uma pessoa.
Encontrei Teresa na rua. Atendia o celular e
parecia irritada. Pediu que não olhasse muito porque já era tarde e tinha
coisas a resolver, disse isso com um gesto de quem afasta algo desagradável.
Teresa era morena de sol, a pele queimada, um
tomara que caia e short apertado e cabelo preso com uma fivela de plástico rosa,
uma tatuagem na coxa e os pés com marcas de chinela de dedo.
Teresa eram duas. Tarde descobri o que Teresa
realmente queria, que era o que sempre quis Teresa.
Teresa na verdade eram três. Uma criança,
outra jovem e uma adulta, que se encontravam só de vez em quando. Teresa bebia
e se punha a falar o que não compreendia, às vezes calhava de virar a cerveja
direto da garrafa, emborcando o vidro e rindo ao mesmo tempo. Uma cena de
novela, ela dizia. Teresa sempre dizia o que sabia, Teresa sempre cavava
debaixo da pele e revolvia as unhas em procura de tesouro.
Teresa era talvez mais do que podia contar.
Eu nunca encontrei Teresa de fato, sempre a
procuro quando saio. Revejo seus passos, entro nas bodegas e chafurdo entre
mercadorias atrás do balcão, pergunto a vendedores de lojas se por acaso viram
por aí uma mulher chamada Teresa.
Nos ônibus estico o olhar pelos assentos e falo
ao motorista apenas o necessário. Quero saber se desceu em algum ponto da
avenida uma mulher com tais e tais características.
Se era bonita. Se tinha os olhos vivos como
chamas e as sobrancelhas arqueadas como um salto de lebre, se balançava o
cabelo quando ria, se olhava as mãos se
pensativa e mastigava os lábios se contrariada.
Ninguém a tinha visto. Teresa era minha
criação, uma animação desanimada? Teresa era lenda urbana, um lance de fábula.
Procuro Teresa numa carteira de cigarro. Nunca
está lá.
Teresa não cabe na carteira, Teresa não se
compra.
Teresa é uma mulher sem valor algum.
Uma vez paramos na praça e conversamos por
horas e horas, ou eu achei que conversássemos. Tive o privilégio de estar com
Teresa, eu lembro e isso me entristece. Era uma quarta, fazia sol, ninguém na
rua.
Perto do meio-dia, Teresa desapareceu entre
as árvores, mergulhou nas sombras e não voltou mais.
Foi vista semanas depois parada num semáforo
esperando para atravessar a rua.
Tenho visto Teresa numa placa de trânsito e
também no desenho da areia, na fila do restaurante por quilo e na entrada do
cinema.
Formas de Teresa no vapor do copo de café, na
mancha escura da mesa, nas ranhuras de piso e nas garatujas que desenho no
caderno sem pauta.
Mas Teresa sumiu, Teresa é agora e nunca
mais.
Teresa foi uma pessoa antes de ser nome.
Teresa foi uma pessoa antes de ser nome.
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