Às vezes tenho engulhos. Sem motivo aparente, eles vêm, instalam-se por uma, duas horas, incomodam e depois se vão, inexplicáveis. Fico um pouco assustado, engulhos sem razão, sem necessidade, apenas por troça, brincadeira, engulhos zombeteiros?
Quem sabe. Não entendo nada de engulhos, nada mesmo.
Mas engulhos são coisa de mulher grávida, penso. E não sou mulher nem estou grávido — bastaria ter dito apenas “Não sou mulher”, já que homens não podem mesmo engravidar.
Tenho engulhos antes de dormir, depois de ter lido algumas páginas de livros e jornais e também após ter visto comerciais na televisão. Ao preencher formulários e apanhar filas, subir e descer escadas, abrir presentes e descascar frutas. Topar com velhos na rua, pontas de cigarro e latas de leite vazias. Vêm quase sempre nessas e noutras circunstâncias, mas também quando não espero sentir o que quer que seja, quando estou sentado no banco da praça ou no trabalho, digitando palavras no computador. Eles vêm.
Engulhos são misteriosos, sobem e descem insuspeitos, caminham sob pés de pano e respiram algodão, tragam bolinhas de naftalina e transpiram alfazema. Acabo de traçar o perfil dos engulhos que sinto ao acordar, dormir. Também ao transpor a soleira da porta do banheiro.
Vou ao médico, à mãe de santo e ao padre, quem sabe um deles consegue resolver.
Acho que os engulhos são coisa deste mundo, eles já estavam aqui antes de nós atravessarmos as galáxias a bordo da nave ET. Nos invadem, ocupam, drenam energias e a paciência.
Finda. Finda. Finda.
Engulho é coisa fina, nem todos podem sentir a mesma coisa que sinto. Estranho que leia pra engulhar, estude pra engulhar, escreva pra engulhar.
Quero deitar e dormir sem pensar nada, apenas deitar e dormir. Sem vasculhar territórios, campear ovelhas negras.
Escrever é laxante, panegírico. Sonho com vacas, desde que vi o filme tenho sonhado com vacas.
Tenho feito. Tenho, finda, finda, finda, finda, finda.
Vacas, vacas, vacas, vacas, vacas, vacas... Metralhando a minha cabeça por baixo do travesseiro. Ao acordar tenho os cabelos sujos de bosta de vaca.
Fim de delírio.
O delírio encerra-se quando escrevemos “Fim do delírio”?
Quem sabe. Não entendo nada de engulhos, nada mesmo.
Mas engulhos são coisa de mulher grávida, penso. E não sou mulher nem estou grávido — bastaria ter dito apenas “Não sou mulher”, já que homens não podem mesmo engravidar.
Tenho engulhos antes de dormir, depois de ter lido algumas páginas de livros e jornais e também após ter visto comerciais na televisão. Ao preencher formulários e apanhar filas, subir e descer escadas, abrir presentes e descascar frutas. Topar com velhos na rua, pontas de cigarro e latas de leite vazias. Vêm quase sempre nessas e noutras circunstâncias, mas também quando não espero sentir o que quer que seja, quando estou sentado no banco da praça ou no trabalho, digitando palavras no computador. Eles vêm.
Engulhos são misteriosos, sobem e descem insuspeitos, caminham sob pés de pano e respiram algodão, tragam bolinhas de naftalina e transpiram alfazema. Acabo de traçar o perfil dos engulhos que sinto ao acordar, dormir. Também ao transpor a soleira da porta do banheiro.
Vou ao médico, à mãe de santo e ao padre, quem sabe um deles consegue resolver.
Acho que os engulhos são coisa deste mundo, eles já estavam aqui antes de nós atravessarmos as galáxias a bordo da nave ET. Nos invadem, ocupam, drenam energias e a paciência.
Finda. Finda. Finda.
Engulho é coisa fina, nem todos podem sentir a mesma coisa que sinto. Estranho que leia pra engulhar, estude pra engulhar, escreva pra engulhar.
Quero deitar e dormir sem pensar nada, apenas deitar e dormir. Sem vasculhar territórios, campear ovelhas negras.
Escrever é laxante, panegírico. Sonho com vacas, desde que vi o filme tenho sonhado com vacas.
Tenho feito. Tenho, finda, finda, finda, finda, finda.
Vacas, vacas, vacas, vacas, vacas, vacas... Metralhando a minha cabeça por baixo do travesseiro. Ao acordar tenho os cabelos sujos de bosta de vaca.
Fim de delírio.
O delírio encerra-se quando escrevemos “Fim do delírio”?
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