Dedos. Dados.
Antes da palavra, era o sofá de costas na sala de espera. Antes da palavra, era o quintal cheio de bonecos e lagartas, a folha em branco, a folha riscada, a folha desfolhando-se enquanto na casa ao lado o casal engalfinhava-se.
Ela perdeu o sutiã, ele a cabeça. Empurra pra cá, empurra pra lá. No canto, olhava. Antes da palavra, havia as brigas conjugais e os peitos à mostra, as pernas magras e a menina atrás das cortinas, as tias nos banheiros de casa, as meninas da escola, os meninos da escola, as professoras todas apenas uma não era como as professoras todas.
Dados, dedos, doze parafusos, dedos, dados, doze parafusos. Conto até trinta e me escondo, vocês correm, não me vêem nem eu os vejo, aonde fomos todos?
Conto até doze, conto nos dedos, nos dados.
Antes e depois da palavra, o que havia? Antes e depois não cabem aqui, em lugar nenhum, mesmo espremidos e cheios de cuidados, por favor, afastem-se para que eles passem, por favor, dêem licença, por favor, sejam educados ao menos uma vez em suas vidas, antes e depois precisam chegar ao outro lado da margem direita do rio que corre ao contrário. Mesmo assim não cabem antes nem depois. Antes e depois são as coisas desagradáveis que ficam esquecidas até que nos lembrem: ainda faltam, não se esqueçam ainda faltam, não se esqueçam ainda faltam e assim nos esquecemos sempre que ainda faltam mas esquecemos.
Faltamos. Antes e depois, ausência. Não tenho memórias da barriga, de dentro da barriga, das tripas, dos dejetos e excrementos misturados ao alimento triturado que me chegava até a boca, fácil, de bandeja — dessas memórias eu não lembro. Mas gostaria de lembrar mesmo hoje.
Penso que antes era abismo, depois a queda, antes descompasso, depois desmedida, antes as coisas todas se unindo na —
SUPER PANELA DE PRESSÃO DA MINHA AVÓ. Da mesma marca, da mesma marca.
Dedos, dados, doze para as quinze horas saí de casa disposto a tudo. Voltei da esquina.
Antes da palavra, era o sofá de costas na sala de espera. Antes da palavra, era o quintal cheio de bonecos e lagartas, a folha em branco, a folha riscada, a folha desfolhando-se enquanto na casa ao lado o casal engalfinhava-se.
Ela perdeu o sutiã, ele a cabeça. Empurra pra cá, empurra pra lá. No canto, olhava. Antes da palavra, havia as brigas conjugais e os peitos à mostra, as pernas magras e a menina atrás das cortinas, as tias nos banheiros de casa, as meninas da escola, os meninos da escola, as professoras todas apenas uma não era como as professoras todas.
Dados, dedos, doze parafusos, dedos, dados, doze parafusos. Conto até trinta e me escondo, vocês correm, não me vêem nem eu os vejo, aonde fomos todos?
Conto até doze, conto nos dedos, nos dados.
Antes e depois da palavra, o que havia? Antes e depois não cabem aqui, em lugar nenhum, mesmo espremidos e cheios de cuidados, por favor, afastem-se para que eles passem, por favor, dêem licença, por favor, sejam educados ao menos uma vez em suas vidas, antes e depois precisam chegar ao outro lado da margem direita do rio que corre ao contrário. Mesmo assim não cabem antes nem depois. Antes e depois são as coisas desagradáveis que ficam esquecidas até que nos lembrem: ainda faltam, não se esqueçam ainda faltam, não se esqueçam ainda faltam e assim nos esquecemos sempre que ainda faltam mas esquecemos.
Faltamos. Antes e depois, ausência. Não tenho memórias da barriga, de dentro da barriga, das tripas, dos dejetos e excrementos misturados ao alimento triturado que me chegava até a boca, fácil, de bandeja — dessas memórias eu não lembro. Mas gostaria de lembrar mesmo hoje.
Penso que antes era abismo, depois a queda, antes descompasso, depois desmedida, antes as coisas todas se unindo na —
SUPER PANELA DE PRESSÃO DA MINHA AVÓ. Da mesma marca, da mesma marca.
Dedos, dados, doze para as quinze horas saí de casa disposto a tudo. Voltei da esquina.
Comentários