Um homem se perdeu no mar.
Entrou, não foi mais visto. Aeronaves
sobrevoam, dão rasantes, barcos partem em busca de algo que possa levar a um
lugar que não existe. O mar não fixa barreiras.
Não se pode dizer que afundou, tampouco que
está irremediavelmente perdido. A procura leva horas, amanhã será retomada logo
cedo. Estarei dormindo ainda quando um grupo numeroso terá os olhos vidrados nas
águas.
A foto que estampa a reportagem do jornal é
de um fim de tarde. Noutro lugar, noutra
parte, talvez um casal se beije olhando o mesmo mar. A mesma paisagem repete-se ora como agonia, ora como sereno.
Talvez não seja ainda o momento de perguntar quando
ele virá. Se virá. E como virá. Inês é morta?
Leio a manchete: desaparecido. Mar. Homem. E imediatamente
me coloco a reunir sob o mesmo teto o conjunto indistinto de sentimentos que
cada uma dessas palavras mobiliza.
E, mesmo assim, foi e não tornou.
Comentários