"Acho que este é o último post
do ano. Amanhã já não pensarei em escrever mais nada aqui antes da estúpida
contagem regressiva e da queima de fogos e de tantas outras coisas que marcam,
ritualisticamente, um passo à frente (?) na vida de todos nós. Em 2007 terei
vinte e sete. Em 2008, vinte e oito, e assim sucessivamente. “Somam-se-me os
anos”, alguém disse isso.
Tinha pensado em escrever um
post mais sofisticado, rebuscado em suas elucubrações e, a um só tempo, terno e
simples. Bonito, quem sabe. Um post cativante. Mas desisti. Estou de saco cheio
deste ano, desta vida e, principalmente, do meu teclado. É duro, escroto de
teclar. Então, devo ser o mais breve possível, o mais rápido. E dizer a que
vim. Pena não saber.
De qualquer forma, acho que vim
dizer feliz ano novo, embora não entenda bem os motivos que nos levam a entupir
caixas de emails com mensagens de final de ano. Não é que não goste do período.
Até gosto, lembro da infância e daquela bombinha maldosa que joguei nos pés de
uma senhora aleijada de uma perna. Foi logo depois da queima de fogos.
Estávamos numa esquina, e ela, que não era de muitos amigos, via tudo de longe.
Talvez nos temesse, sei lá. O fato é que, empolgado com os fogos, acendi uma
das minhas rasga-latas e a atirei aos pés da Maria – era o nome dela. Acho que já
morreu. É que, além de deficiente, era um bocado idosa.
Sim, eu sei, nunca fui um bom
menino. Matava meus próprios peixes depois que enjoava de brincar com eles. Da mesma
forma com a criação de galinhas da minha avó. Os pintinhos serviam
de alvo para testar minha pontaria com a baladeira. Dessa sanha nem minha irmã, de
cinco anos ou menos, escapou. E assim fui crescendo, maldito e temido entre os
bichos. Respeitado entre os humanos.
É disso que me fala o ano novo,
dessas coisas de meninice, de quando morava num bairro bem distante de tudo e
conhecia muitas pessoas. De quando brincava num sítio gigantesco, nadava num
rio poluído e jogava bola sem saber jogar, apenas por intuição. Depois fui melhorando, até que cheguei ao patamar de razoável atacante no time da
escola. Isso há uns bons nove anos, eu acho.
Curioso, a falta de
flexibilidade das teclas influi no jeito que escrevo. Quando estou no trabalho,
a escrita como que fica mais nervosa. Não pelo fato de estar blogando quando
deveria estar fazendo outra coisa. Trabalhando, por exemplo.
Mas talvez porque
o teclado que uso lá seja bem leve, com teclas que convidam a um texto mais
escorrido e longo. Aqui em casa, contento-me com a ordem direta do discurso e
evito manobras mais ousadas. Faço o feijão-com-arroz, e estamos conversados.
Então, acho que era isso. Não
sei se fico, não sei se vou. Na Praia de Iracema, aqui em Fortaleza, vai ter
Elba Ramalho e uma queima com duração de quinze minutos. Não gosto de Elba,
muito menos de ficar olhando o céu iluminar-se artificialmente. Acho que
ficarei em casa mesmo, vendo um filme ou dormindo. Para vocês, um feliz ano
novo."
[Texto escrito num blog antigo e publicado em 29 de dezembro de 2006]
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