“O sentimento de estar pleno sem estar pleno é confuso”, questionou a premissa apresentada há pouco pela professora de filosofia enquanto verificava no celular uma mensagem de Luciana do 3º B garantindo que a tarde inteira estaria sozinha, em casa, e que os pais sequer perceberiam a cama amarrotada quando voltassem, de modo que ele, Rafael, 17, poderia considerar agora sem qualquer receio a possibilidade antes remota como algo concreto, que, a depender da vontade de cada um, e a dela parecia irrefreável naquele dia, logo seria executada.
“São idéias aparentemente contraditórias”, respondeu a professora, uma mulher de 35 anos, bonita, cansada, vestindo jeans, camiseta, meias de algodão e calcinha larga, confortável, e sutiã de bojo, e relógio grande no pulso esquerdo, o que era uma novidade, concluindo um mestrado, recém-separada, flertando com um colega de trabalho, discutindo com a mãe sempre que lhe perguntavam quando finalmente iria encarar a vida como uma estrada cheia de percalços mas compensadora, algo edificante, uma via que salvo engano valia a pena.
Rafael parecia desinteressado e seguiu recorrendo ao corpo de Luciana metido no fardamento da escola como mecanismo inequívoco cuja razão de ser era realmente proporcionar uma porção cavalar de coragem além daquela natural advinda da falta de sexo por longas três semanas, algo que era próximo da fantasia de estar com uma garota desejada por todos os meninos da escola, era nisso que pensava enquanto Marcela, cabelos castanhos cortados bem curtos, didática mas precisa em seus comentários, desleixada mas charmosa, dirigia-se a Rafael agora estendendo a questão para o restante da sala: “O que acham da idéia de plenitude como uma incompletude que se conforma com a precariedade?” Ninguém disse qualquer coisa, e todos continuavam conversando.
É oportuno que se diga de Luciana que tem os olhos claros, quase verdes, entre verde e azul, é de fato uma cor inexistente, e que tem também os cabelos bem clarinhos, mas não louros, e os pelos dos braços delicadamente esgarçados, os lábios são uma risca feita de lápis cor laranja, as orelhas pequenas raramente adornadas por brincos imitando o dorso colorido de uma joaninha ou o bico sem graça de um golfinho, se é que golfinho tem bico.
Entretanto, foram menos os detalhes que a ideia mental que Rafael tinha de Luciana que o atordoaram. Ora, considerava, Lu era aquela a quem viam sempre desfilar usando a calça escolar azul marinho apertada muitas vezes contornando precisamente a genitália, a blusa margeando os seios já grandes, os cabelos molhados em desalinho, a bunda empinada rija destacada do corpo em ritmo próprio.
De maneira que, nesse instante de absoluta iluminação espiritual, Rafael decidiu que sairia dali direto para a casa de Luciana, 18, a cinco quarteirões do condomínio de Fernanda, 17, onde passaria depois para tomar café e comer bolacha. Nesse mesmo intervalo, encontraria uma maneira de enviar um torpedo para Marcela, a professora, tatuagem de Nietzsche no tornozelo, postulando alguma nova possibilidade para o teorema que acabara de formular.
“São idéias aparentemente contraditórias”, respondeu a professora, uma mulher de 35 anos, bonita, cansada, vestindo jeans, camiseta, meias de algodão e calcinha larga, confortável, e sutiã de bojo, e relógio grande no pulso esquerdo, o que era uma novidade, concluindo um mestrado, recém-separada, flertando com um colega de trabalho, discutindo com a mãe sempre que lhe perguntavam quando finalmente iria encarar a vida como uma estrada cheia de percalços mas compensadora, algo edificante, uma via que salvo engano valia a pena.
Rafael parecia desinteressado e seguiu recorrendo ao corpo de Luciana metido no fardamento da escola como mecanismo inequívoco cuja razão de ser era realmente proporcionar uma porção cavalar de coragem além daquela natural advinda da falta de sexo por longas três semanas, algo que era próximo da fantasia de estar com uma garota desejada por todos os meninos da escola, era nisso que pensava enquanto Marcela, cabelos castanhos cortados bem curtos, didática mas precisa em seus comentários, desleixada mas charmosa, dirigia-se a Rafael agora estendendo a questão para o restante da sala: “O que acham da idéia de plenitude como uma incompletude que se conforma com a precariedade?” Ninguém disse qualquer coisa, e todos continuavam conversando.
É oportuno que se diga de Luciana que tem os olhos claros, quase verdes, entre verde e azul, é de fato uma cor inexistente, e que tem também os cabelos bem clarinhos, mas não louros, e os pelos dos braços delicadamente esgarçados, os lábios são uma risca feita de lápis cor laranja, as orelhas pequenas raramente adornadas por brincos imitando o dorso colorido de uma joaninha ou o bico sem graça de um golfinho, se é que golfinho tem bico.
Entretanto, foram menos os detalhes que a ideia mental que Rafael tinha de Luciana que o atordoaram. Ora, considerava, Lu era aquela a quem viam sempre desfilar usando a calça escolar azul marinho apertada muitas vezes contornando precisamente a genitália, a blusa margeando os seios já grandes, os cabelos molhados em desalinho, a bunda empinada rija destacada do corpo em ritmo próprio.
De maneira que, nesse instante de absoluta iluminação espiritual, Rafael decidiu que sairia dali direto para a casa de Luciana, 18, a cinco quarteirões do condomínio de Fernanda, 17, onde passaria depois para tomar café e comer bolacha. Nesse mesmo intervalo, encontraria uma maneira de enviar um torpedo para Marcela, a professora, tatuagem de Nietzsche no tornozelo, postulando alguma nova possibilidade para o teorema que acabara de formular.
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