Descubro que a palavra que me
deu era outra. Não uma vaga, não qualquer uma, mas agora. Disse “agora”, tratou
de explicar enfatizando sempre o caráter de urgência, pondo mais acento numa sílaba e arregalando os olhos. É agora.
Agora entendia, falou como se
dissesse: cuide disto, cuide deste tempo, pense neste momento. Perdi tantas
coisas na vida, falou, a voz de repente mais baixa, mas sem perder serenidade. Perdemos
todos, repeti.
Era um cortejo de derrotas,
perdas, poucas conquistas, mas havia sempre esse agora. Esteja preocupado, não
tenso, mas de olho neste instante que passa.
O agora que escapulia. Tinha dificuldade
de pensar no momento, de plantar sementes e esperar que brotassem de imediato. Ou
talvez o agora fosse o contrário de plantar, apenas semear sem a necessidade da
espera, só atirar às lavouras e depois ir sem olhar pra trás. Quem sabe não
fosse como andar de bicicleta numa ladeira, a facilidade de mover-se adiante, o impulso de cortar o excesso de realidade e ater-se ao que era, ao que ficava.
Pensou outra vez que não
tinha talento, que a vida exigia tanto e ele sempre tão pouco, tão alheio a si
mesmo. Não se apiede de si, disse.
Agora era sempre uma
estrutura de bolha de sabão. Já repararam em sua fragilidade, em como se
decompõe com facilidade, no modo como é plena se suspensa no ar mas se desfaz se a sopramos de leve?
Correntes de vento, choques térmicos, pequenas contrações e expulsões. Circunvoluções amorosas.
Agora como um organismo vivo, um bicho que não sabemos. Veja este animal, ela aponta. É o agora, e o agora não se conhece, estamos às voltas com seu cheiro e cor e forma mas não sabemos nada exceto que existem.
Olho para o agora, e ele contém tanto tumulto. O agora é uma tempestade, o agora é depois da tempestade. É passado e futuro.
Agora como um organismo vivo, um bicho que não sabemos. Veja este animal, ela aponta. É o agora, e o agora não se conhece, estamos às voltas com seu cheiro e cor e forma mas não sabemos nada exceto que existem.
Olho para o agora, e ele contém tanto tumulto. O agora é uma tempestade, o agora é depois da tempestade. É passado e futuro.
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