Difícil é olhar o tempo, passado, presente e futuro, e confrontá-lo, disse de si para si, sem suspeitar que essa mesma dificuldade - enxergar-se mais e mais nitidamente - jamais a impede de buscar respostas velhas para perguntas novas, sempre regredindo, nunca repetindo-se, sempre aninhando-se nesse canto distante que vem construindo e para o qual não encontra outro nome senão o genérico Meu canto em algum ponto do eixo infinito.
Porque não sabe ao certo o que quer iluminar quando tem em mãos o facho de luz difusa com que somos equipados, se a quina da parede, um quadro equilibrado a custo na mesa, a cadeia magnética de imãs de geladeira, a televisão, as gavetas, as cartilagens da orelha, os sinais das costas, a sujeira que lhe escapa das narinas mesmo sem querer.
Uma flor apocalíptica, diria, uma flor sem classificação, acrescentaria.
Ver-se no passado é quase comunicar algo por meio de túnel que interliga dimensões opostas, não complementares, mas coexistentes. E o que espera de tudo? O que quer com diálogos? Saber-se alguém destinada a qualquer outra coisa senão o que é.
O que a incomoda é ser o que é todo o tempo, incomoda-se sobretudo quando lembra o dia em que brincaram na sala e ela, por breve instante, sentiu-se outra.
Foi quase feliz.
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