A positividade me aborrece, essa que se impõe como obrigação, um roteiro que se deve cumprir, do contrário recai-se no seu contrário, a negatividade.
E ser negativo hoje é uma coisa muito ruim, algo moralmente condenável, uma ferida da alma, uma lepra social.
Ser positivo e produtivo caminham sempre de mãos dadas. A necessidade de produzir mais em menos tempo aliada a uma sugestão mal-disfarçada de estar permanentemente em estado de reconhecimento do que há de melhor em cada coisa.
Tudo se resolve na escala do indivíduo. De repente, não há problemas fora do nível pessoal. Seja seu emprego, seja sua felicidade, seja a saúde mental. A autonomia que embota. O fulano e a fulana se bastam nessa autocracia dos felizes.
Se bem trabalhadas, as agonias coletivas têm uma resposta doméstica, uma vez que são convertidas em dado com o qual se lida solitariamente. Sobre o sujeito-celular pesam as respostas pelas quais se espera que as questões mais difíceis se desfaçam como num passe de mágica.
A positividade como régua moral é tão tóxica como qualquer pessimismo exacerbado. Evitam-se o pior, o feio, o sujo, o anti, preferindo-se a isso o melhor, o belo, o luzidio, o favorável.
O positivo então se constitui ele mesmo num negativo por operação inversa, fazendo do benéfico o prejuízo, do proveitoso o malefício.
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