Publicado em 27 de julho de 2018
Levei mais de um mês até poder voltar. E agora estou aqui.
Me pergunto se é ficção ou real. Se escrevo o que falo, e assim entendo melhor o que preciso entender. Ou se invento o que preciso falar, e desse modo me afasto do que é mais necessário.
De qualquer forma, levou todo esse tempo. Como uma volta para muito longe ao longo da qual vamos costurando as pontas e suturando ao mesmo tempo, atando pele com ele, desatando os fios enredados.
Voltei por causa de um sonho. Ontem, o San Pedro apareceu antropomorfizado. Não era o prédio em ruínas que é na frente da praia, mas uma pessoa que me procurava e dizia que tinha coisas a falar sem falar de fato.
O prédio, hoje apenas esqueleto deixado a comer-se de maresia, de repente tinha esse rosto magro e cabelos mais longos que me encarava e pedia para que entrasse mais fundo.
Não parasse em frente, mas entrasse e conhecesse as dependências. As mortes, os suores, os gozos e o frio. Ali dentro uma mulher parira uma menina, um homem se matara, um policial tinha brincado com armas, a avó de um suicida colara nas paredes todas as fotos do neto.
Entendi que era hora de voltar. Reunir as sombras, situá-las em espaço e luz apropriados, apalpar o informe.
Depois pensei: era sonho, apenas. E nada disso importa. O tempo do San Pedro é outro. Está condenado.
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