Tenho poucos minutos para escrever.
Durmo mal e acordo pior ainda, pela manhã estou sempre vagando desacordado entre os cantos da casa.
Vejo esse livro nas mãos, mas de fato não estou olhando para ele, estou fixando a imagem do objeto diante da retina sem que ele de alguma maneira se traduza como o que de fato é.
O que de fato é me escapa a todo instante se me acho nessas situações de falta de sono, se acordo e penso um pouco e a TV na sala resiste a ligar e tenho de me manter alerta por algum motivo, como se um perigo me ameaçasse.
Olho e é visível o esforço para entender que se trata de um livro de papel isso que seguro agora no banheiro. Um volume que abro ao ponto de quebrar.
Está lá, eu tento ler as primeiras frases, mas novamente constato sem drama que não estou aqui, não estou suficientemente presente, ou que não tenho as ferramentas para decifrar aquele código, não pude completar a formação que me habilitaria para essa tarefa de ler e compreender essa língua na qual tentam me dizer alguma coisa.
Talvez seja apenas sono. Falta de sono, digo. Acordei às 3 horas da madrugada e fiquei olhando uma sombra se formar no teto como fazia quando era criança, a luz da varanda filtrada pela janela criando esse espectro, um hominídeo parado, um avatar vigilante diante da porta entreaberta, como se me impedisse de fazer o que quer que fosse.
Apuro os sentidos. É o barulho do esguicho do sistema de irrigação dos jardins do prédio, máquinas acionadas sempre no mesmo horário, calculo que logo deve amanhecer, é sempre mais noite quando escuto a água sob pressão derramar-se com fúria sobre a terra umedecida.
Lembro de um filme, desisto de acertar o título, esqueço tudo com facilidade hoje. Fico na dúvida se envelheço depressa ou se novamente estou apenas precisando dormir.
Amanheceu tão rápido. Enquanto tentava recordar um sonho antigo que tenho sempre com o bairro da infância, as primeiras luzes se refletiram na parede e nas lombadas dos livros, então fiquei estudando esse monte de livros de madrugada, lombadas e mais lombadas, não recomendo esse exercício, tem algo de desesperador.
Fontes e mais fontes, centenas de livros arranjados sem qualquer ordem nas prateleiras da sala, numa confusão de formas e histórias, boa parte das quais não lidas, jamais serão lidas, nunca serão lidas, pra ser bem honesto, não numa única vida, não na minha vida.
E de repente me sinto um tanto ridículo. Tenho ganas de atirar tudo fora, para que se molhem como as plantas do prédio que parecem de mentira, para que estraguem ao caírem na piscina e se desmanchem como parede corroída pelo bolor.
Talvez seja apenas sono. Falta de sono, digo. Acordei às 3 horas da madrugada e fiquei olhando uma sombra se formar no teto como fazia quando era criança, a luz da varanda filtrada pela janela criando esse espectro, um hominídeo parado, um avatar vigilante diante da porta entreaberta, como se me impedisse de fazer o que quer que fosse.
Apuro os sentidos. É o barulho do esguicho do sistema de irrigação dos jardins do prédio, máquinas acionadas sempre no mesmo horário, calculo que logo deve amanhecer, é sempre mais noite quando escuto a água sob pressão derramar-se com fúria sobre a terra umedecida.
Lembro de um filme, desisto de acertar o título, esqueço tudo com facilidade hoje. Fico na dúvida se envelheço depressa ou se novamente estou apenas precisando dormir.
Amanheceu tão rápido. Enquanto tentava recordar um sonho antigo que tenho sempre com o bairro da infância, as primeiras luzes se refletiram na parede e nas lombadas dos livros, então fiquei estudando esse monte de livros de madrugada, lombadas e mais lombadas, não recomendo esse exercício, tem algo de desesperador.
Fontes e mais fontes, centenas de livros arranjados sem qualquer ordem nas prateleiras da sala, numa confusão de formas e histórias, boa parte das quais não lidas, jamais serão lidas, nunca serão lidas, pra ser bem honesto, não numa única vida, não na minha vida.
E de repente me sinto um tanto ridículo. Tenho ganas de atirar tudo fora, para que se molhem como as plantas do prédio que parecem de mentira, para que estraguem ao caírem na piscina e se desmanchem como parede corroída pelo bolor.
De manhã o porteiro se assustaria com esse espetáculo, livros no fundo da água e na superfície, os mais leves ainda boiando, os volumes grossos de Karl Ove já totalmente imersos, irrecuperáveis como a vida que ele tenta desesperadamente descrever em detalhes.
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