Sou um leitor de atas do Copom, as reais e as imaginárias, as publicadas e as que invento.
Digo imaginário porque encaro as atas como um gênero literário, o das “atas do Copom”, uma forma com características próprias, princípios de composição, uma lógica particular, uma certa maneira de conduzir as palavras, de fazê-las fluir pela página animadas por um narrador coletivo que se ausenta deliberadamente, talvez na ilusão de manter de pé a crença segundo a qual a ata se produziu a si mesma, é resultado de um espaço incriado, do gênio romântico da economia e das finanças, da regulação e da vigilância do futuro, deu-se a ler por decisão pessoal.
Digo coletivo, e já nem sei do que falo. Quem narra uma ata do Copom, sobre quem recai o foco, a quem se destina? Tenho essa curiosidade sempre que uma nova ata vem à tona, quando o BC publica um resumo da ata naquele estilo típico de uma ata, impessoal, sem marcas, limpo e formal, de modo que sua produção só poderia ter se processado por obra de uma inteligência artificial ou de um coletivo indistinto – o colegiado embutido no Copom, o conselho que é, ao final, o autor por trás da ata.
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