Olhava a ponto de encurvar o corpo, dobrado sobre o parapeito da cacimba, o espelho d’água refletindo uma cabeça miúda, de vez em quando os braços acenando para os peixes lá no fundo, formas angulosas indo de um lado a outro o dia inteiro.
O que o atraía à cacimba toda tarde?
Disse à avó que eram os peixes, mas eles não tinham graça, eram tão escuros que mal se viam enquanto deslizavam, não eram como peixes dourados confinados em aquário. Talvez a fundura em si, o tipo de magnetismo que as profundezas lançam sobre os viventes, assim como o fogo, que carece de explicação, um traço de formação ao longo das eras e pronto, lá se estava prostrado diante do enigma.
Quem sabe os amigos, mas costumava ficar sozinho por horas, a vista enterrada na água, o silêncio interrompido apenas quando a vizinha aparecia para retirar baldes cheios ou quando Damião passava do trabalho cortando caminho pelo quintal alheio.
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