Sonho com o solo marciano, a aridez vermelha que conheço de jogar videogame e estudar as imagens que chegam por uma sonda cujos passos acompanho desde o início, quando chegou ali sob muita expectativa.
O que revelaria o equipamento, um rover com pneus emborrachados? Escrevo a crônica do solo, o mundo alienígena visto sob a perspectiva do dispositivo que alonga a vista do olho humano e teletransporta a experiência, alargando o campo do vivido.
Gostaria de andar ali, correr e tropeçar naquelas pedras, o relevo que parece Morro Branco. Então lembro das dunas, das falésias, do carnaval. Um carnaval em Marte, sem Covid, sem Bolsonaro, sem preocupações senão atravessar os dias de folia.
Apenas dois blocos desfilando, Spirit e Opportunity, cujas direções, opostas, teriam um único ponto de contato, onde se encontrariam ao final do dia para uma grande farra.
Mas isso não é parte do sonho, apenas delírio. Do sonho recorto apenas o chão marciano, calcinado como o do sertão, a piçarra cristalina onde às vezes jogava bola e ralava dedos e joelhos. O que há entre o sertão e o planeta?
Tento relacionar as geografias, os cruzamentos que possa haver entre elas, de maneira a justificar o que se passa naquele sonho, um pedaço de narrativa desconectado de tudo o mais que tenho experimentado.
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