De tempos em tempos, uma modalidade esportiva ganha os corações e mentes do fortalezense, deles fazendo morada por meses, até que, de repente, não mais que de repente, o amor acaba. Agora é a vez do beach tênis, que sucedeu ao stand up paddle no gosto da mocidade nativa.
Uns dois anos atrás, se alguém quisesse saber quem estava livre na cidade, bastava olhar pra orla. O stand up paddle era a primeira atividade a que o recém-solteiro se dedicava com afinco, de modo a se reconectar com esse ambiente de sol e mar e também acenar para sua audiência que ele ou ela estava dando sopa ali.
Com o beach tênis ocorre algo semelhante, mas com alcance maior, evidentemente, extrapolando o caráter afetivo e simbólico, sem perder esse ar de corrente social que se transmite entre as classes média e alta, como uma gripe ou frieira que só acomete quem mora do Dionísio Torres pra lá.
Tal dia, todo mundo decidiu comprar uma raquete especial, que custa uns bons dinheiros, e partiu rumo à praia ou, como me disse um amigo, foi “pro play”, que é como a garotada do circuito cafuçu-descolado gosta de falar.
O fato de que confundam o espaço público com o play do condomínio já diz muita coisa, mas vamos adiante, sem perder tempo com o que é lateral, ou seja, com a ótica privatista de uso do coletivo e a falta de vínculo com ambientes cujo trânsito não está mediado pela mercadoria nem colonizado por marcas.
O importante – não é importante, na verdade – é entender por que essas práticas vão e vêm, sazonais, ao gosto do humor do gentio, que se desapega rapidamente, tão logo o restante do grupo deixe de lado o que antes mobilizava interesse coletivo e exigia até certo investimento da pessoa, como o kite surfe, por exemplo.
Lembram da moda do pirocóptero? É o emblema do fortalezense, povo novidadeiro cujos interesses se agrupam em torno do que é exclusivo, e não de uma ideia de partilha. Por isso, quando todo mundo começa, abraça a atividade e uma comunidade se forma, tudo perde a graça.
Os nostálgicos até se queixam: bom era no começo, recordam esses bandeirantes, quando não tinha ninguém na praia jogando, só a gente e o povo que parava pra olhar aquela marmota, uma rede à meia altura e o barulhinho da bola caindo sem quicar na areia. Sei como é isso. Já vi isso acontecer antes com patins e bike. O beach tênis, pelo visto, é a próxima vítima dessa loja de variedades que é o coração da cidade.
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