Uma chuva passou pela rua agorinha, eu a vi se aproximar de longe, até abri a janela e depois fechei-a, não queria correr o risco de que molhasse os livros mais próximos do parapeito, mas, de verdade, nem teria precisado, a chuva acabou no meio do caminho, se perdeu, quando olhei tinha passado, não era mais nada.
Durou o tempo de levantar da cadeira e chegar à sala para fechar a porta. Uma chuva rápida, tão rápida que me pergunto agora se de fato choveu ou se foi ilusão, não lembro de tê-la visto passar, tampouco de molhar o asfalto.
Era chuva ou engano?
Continua quente, pelo menos tão quente quanto antes da chuva, tento lembrar se no mês de outubro já faz tanto calor assim e acho que consigo. Acho que posso recuperar uma parte desse tempo que perdi. É sempre tão fundo quando a memória recua que tenho receio de não voltar mais depois de entrar na massa escura.
Em janeiro esfria, depois é agradável até junho ou julho, agosto é sempre um pouco de cada estação, setembro e outubro nos preparam para o pior, novembro e dezembro são meses de que depois nos lembramos sempre com certa afobação, porque grudam na pele e não largam mais.
A chuva, se vinha, não veio, se passou, não vi, se foi, dela não tenho ciência. Veio cambaleando, é possível que de sua queda tenha restado apenas aquele momento em que a luz do poste cruzou-lhe o caminho. Foi quando olhei e tive certeza de que chovia, de que o calor talvez diminuísse, mas depois disso nada mudou. A cidade continua tão quente quanto antes. Tenho vontade de abrir uma cerveja e beber, em seguida dormir. Mas esqueci de ir ao supermercado, na geladeira tenho suco de uva e goiaba, nada de cerveja.
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