Amanhã uma viagem curta, um refúgio por poucos dias. Acordamos cedo, arrumamos as malas e partimos. Asseguro-me de levar sempre o de que preciso, refaço as contas, repasso as palavras que pretendo dizer e as frases que talvez anote.
Como sempre, levarei livros que ficarão de lado na maior parte do tempo, seja por desinteresse, seja porque nessas viagens a leitura, uma modalidade habitual, doméstica, se desloca, e entre o ato e a página se instaura a estranheza que a dificulta.
Vou para perto, logo ali, uma reta ao fim da qual avistamos uma subida que continua assim por muito tempo, até que finalmente chegamos, quando já desconfiávamos de que a angulação em decolagem não cessaria.
Devemos passar por esse hotel onde eu um dia estive. Ainda criança, talvez seis ou sete anos. O corpo arranhado de uma queda de skate, um anzol que se pendurou na roupa, uma prancha quebrada na piscina.
Numa das histórias que conto a minha filha, ele é assombrado. Agora ela me pergunta se podemos dormir lá.
Digo que são histórias, apenas, e que o assombro é algo que trazemos nos olhos.
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