A esta altura, não sei se é relevante falar sobre a natureza do que escrevo aqui. Certamente não é, mas vou correr esse risco.
Talvez já esteja claro que acumulo pedaços, fragmentos, retalhos com que vou tentando construir algo, dar feito de coisa inteiriça, sem jamais saber ao certo se consigo, como é comum entre pessoas com essa mesma monomania.
Escrevo desde 2005, quando criei o espaço, que foi mudando de nome até que Corrida espacial se firmasse por razões que não entendo.
Quer dizer, até entendo. Há simbologia, um campo de interesse científico-histórico-onírico situado nessa expressão, um conjunto de sentidos que ela carrega que me fazem querer falar, que abrem janelas. Remetem tanto a espaços quanto a tempos.
Justificados nome e objeto, quero dizer ao leitor eventual, aquele que chega casual ou inadvertidamente: isto não é um diário, não é um bloco de notas, não é um arquivo, não é um blog pessoal, não é um caderno de anotações. É um pouco de cada uma dessas coisas.
Gosto de mantê-lo tal como o encontrei exatamente porque me faz bem preservar essa natureza inacabada, provisória, um locus no qual, desde a partida, tudo que chega goza do mesmo estatuto de coisa sem categoria definida.
Como o que escrevo e faço também se movimenta para essa zona de intercâmbio ou de indecidibilidade, deixo a casa assim, como o inquilino que aporta sem saber onde pousa ou para onde vai. Nisso não há lirismo, mas um fato, que constato depois de muito tempo e que se explica a mim também por acúmulo.
E as 12 casas?
As casas do título desta postagem se referem a uma narrativa mais ampla que venho desenvolvendo, mas sobre a qual ainda tenho certo pudor em falar. E, mesmo assim, falo, porque o pudor me empurra e faz com que pense nesse veto.
Não sei se é coisa trivial imaginar a vida que transcorreu nesses lugares zodiacais, as rasuras, os choques e os golpes no curso do tempo, tudo que se passou numa antiguidade, outro intermezzo e mais um chegado ao presente, mas vou insistindo. E nisso recupero mais do que pretendia, mais do que achava que conseguiria.
As coisas se inscrevem num lugar que não conhecemos até o exato momento em que a encontramos.
Com as casas sempre foi assim. Lembro das paredes, do telhado e dos quartos, das chegadas e partidas, tudo atravessado pelo mesmo projeto de inacabamento.
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