Como é grande a tentação de extrair do programa televisivo uma lição ou aprendizado qualquer, faço minha tentativa. Primeiro, foi uma edição em que predominou a rejeição. Ora, o gaiato há de perguntar: num jogo de eliminação e choque de egos, nada mais natural do que rejeitar, correto?
Não se uma das participantes foi banida com o maior percentual da história da atração, e mesmo a campeã acabou por se tornar ela mesma rejeitada nas redes, por motivos vários, da suposta chatice ou inconveniência como traço de personalidade até o hipotético uso de estratégias digitais duvidosas por sua torcida, acusação que chegou às raias do delírio na véspera da decisão.Embora não seja um douto consumidor de BBB, tenho a idade a meu favor. E não lembro de outro ano, desde sua estreia, em que os jogadores tenham sido tão sistematicamente rejeitados e suas ações, escrutinadas e reviradas pelo avesso, com repercussões que não se limitavam às quatro linhas da TV, estendendo-se como uma maldição a familiares, amigos, namorados etc., numa cascata incontrolável de prejuízos financeiros e afetivos.
De Karol Conká ao Nego Di, de Lumena ao Rodolffo, de Caio a Viih Tube, todos em algum momento estiveram sob esse crivo persecutório do virtuosismo moral e do bom-mocismo digital que se manifesta sobretudo nas redes, na forma de sentenças condenatórias irrecorríveis, que cada um tem de amargar como corolário natural de sua inscrição, aceitando tacitamente o fato de que nada do que façam de agora em diante estará livre da nódoa do pecado original instituído pela junta sagrada que decide quem ganha ou perde.
Dessa vingança bíblica não escapou sequer Juliette Freire, a advogada paraibana de 36 anos que se sagrou vitoriosa e recebeu o prêmio de R$ 1,5 milhão, mais as comodidades e tudo que representa vencer e estar exposta por tanto tempo na televisão no maior canal brasileiro.
A nordestina chegou a virar objeto de análise, publicada em grande jornal, que a comparava a Jair Bolsonaro, o presidente que dá de ombros para 400 mil mortos em meio à pandemia e usou disparos em massa nas eleições para burlar as regras do jogo.
A ganhadora do BBB 21 e sua torcida foram equiparadas, em atos e postura, aos apoiadores do presidente e ao chefe do Executivo, cuja responsabilidade é agora alvo de investigação num outro reality – a CPI da Covid, que vinha disputando audiência com o programa global, mas sem sucesso.
Ao que parece, punir o elenco com a saída deixou de ser suficiente para quem acompanha a atração. Além de defenestrá-lo, é preciso fazê-lo perder o emprego, contratos e seguidores e ameaçar os membros de seu círculo mais íntimo, cobrando-lhe uma fatura que nunca será paga, porque a intenção não é pedagógica, mas sádica.
Comentários